Resenha do livro Capitalismo sem Capital: A ascensão da economia intangível, de Jonathan Haskel e Stian Westlake

Publicado no Brasil pela Alta Books, o livro Capitalismo sem Capital, de Jonathan Haskel e Stian Westlake, oferece uma leitura instigante sobre uma transformação silenciosa, porém radical: o deslocamento da economia global para uma base intangível. Se no passado o investimento era sinônimo de ativos visíveis — fábricas, máquinas, veículos — hoje, os elementos centrais da criação de valor estão em software, marcas, redes, conhecimento e relações organizacionais. É uma mudança estrutural que altera não apenas o que se produz, mas como se investe, regula e governa.

A tese dos autores parte da constatação de que, em países desenvolvidos, o investimento intangível já supera o tangível. Isso não é apenas uma curiosidade estatística: trata-se de uma reconfiguração profunda da lógica econômica. Ativos intangíveis são, por definição, difíceis de mensurar, financiar e proteger. Eles não servem facilmente como colateral e, muitas vezes, não se enquadram nas molduras jurídicas e contábeis pensadas para o mundo industrial. Resultado: uma economia cujo valor real escapa às ferramentas tradicionais de avaliação.

Essa dissonância impõe desafios consideráveis. Modelos de contabilidade nacional, regras tributárias e instrumentos de política monetária continuam ancorados em uma lógica tangível, enquanto as empresas mais valiosas do mundo operam com ativos que não aparecem no balanço. O caso emblemático da Microsoft, cujo valor de mercado foi durante anos sustentado por ativos invisíveis aos olhos dos contadores, é apenas um entre muitos exemplos trazidos ao longo da obra. Em um mundo em que o “capital” não ocupa espaço físico, as métricas convencionais se tornam cada vez menos eficazes para orientar decisões públicas e privadas.

Os efeitos dessa transição são múltiplos: aumento da concentração de mercado, dificuldade de financiamento para empresas emergentes, volatilidade nos ciclos econômicos e uma crescente desigualdade entre setores e territórios. Mais do que isso, os instrumentos clássicos de intervenção estatal — como tarifas de importação, subsídios industriais ou incentivos à infraestrutura — tornam-se cada vez menos efetivos em um contexto em que o valor circula por redes digitais e cadeias de inovação globalizadas.

Ao longo de suas páginas, o livro evita tanto o determinismo tecnológico quanto a idealização do imaterial. Seu mérito está em cartografar com rigor os contornos dessa nova economia, expondo os limites das ferramentas com as quais governos, empresas e analistas ainda operam. Não há promessas de soluções fáceis, mas há uma convocação clara: se queremos compreender — e influenciar — o rumo do capitalismo atual, será preciso reconstruir as bases conceituais com as quais interpretamos o investimento, o valor e o desenvolvimento.

Capitalismo sem Capital é leitura essencial para quem busca entender os mecanismos econômicos que moldam o presente, e sobretudo para quem intui que o que mais importa, hoje, talvez não possa ser visto. O livro está disponível no site da Alta Books, com preço de R$ 74,90 (link).

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